Cultura se faz com o quê?*

Esses são os ingredientes para um gostoso café da manhã.
Mas quais são os ingreditentes da cultura?

Cozinhar é a arte de juntar diversos ingredientes e transformá-los em algo novo, fazendo com que o sabor de cada parte componha o todo com harmonia. Com a cultura não é muito diferente. Existem “receitas” para fazer um bom evento, uma boa pesquisa, um bom campeonato. E cada um desses produtos ou projetos precisa usar a particularidade de cada “ingrediente” para compor o todo, ou seja, usar os talentos, pensamentos, idéias, entre outras coisas para deixar tudo mais interessante.

Mas cumprir a receita à risca não significa sucesso. Nem na cultura, nem na culinária. É tanto que nenhuma comida é igual à outra, mesmo sendo feita da mesma forma. Ou vai dizer que o arroz com feijão que você come no Mercado Velho é igual ao da sua casa? Mas a receita é a mesma não? Os ingredientes não são os mesmos? Da mesma forma na cultura, mesmo usando as “receitas”, a forma que você faz. O espírito e a dosagem de criatividade influenciam no resultado. E, oras, os chefes de cozinha, profissionais ou não, também inventam novos pratos, não? Na cultura também.

Só que, a cultura é feita de que? Porque todo mundo sabe que é preciso alguns ovos, farinha, leite, fermento e algumas coisinhas a mais para fazer um bolo. Mas como definir o que é necessário para fazer cultura? Principalmente quando ela é algo tão mutável e diferente. Para isso precisaríamos antes pensar “O que é cultura?”, mas aí já seria um outro campo filosófico, sociológico e tantas outras linhas de pensamento que seria necessário um outro texto só para discutir esse tema.

Mas pensando na cultura como as áreas de Esporte, Arte e Patrimônio Cultural, fazer cultura não se resume a fazer um cd, publicar um livro ou realizar um curso de basquete. Cultura se faz com inspiração e criatividade. Mas, além disso, com força de vontade. Pois como dizem os conselheiros que freqüentam as Câmaras Temáticas do nosso Sistema de Cultura: não é fácil. É preciso ter paciência, jogo de cintura e muita perseverança para fazer um projeto sair do papel e se criar, ou melhor, ser criado. E o esforço gera trabalho não apenas para o músico que vai tocar ou esportista que vai competir. Mas são pessoas que lidam com som, luz, gráfica, uniforme, medalhas. Ajuda até o senhor da pipoca que vai vender na praça onde o evento está sendo realizado. Mobiliza a comunidade, o público, os produtores, os artistas.

E para se fazer cultura é preciso antes de tudo saboreá-la. Assistir aos shows, ler os livros, ir às peças, torcer em campeonatos, participar de oficinas, escolinhas, ler ensaios, ver exposições, ir a museus. Tentar entender o mundo em volta e suas particularidades. A curiosidade é essencial. Mas é preciso também muito suor, muito trabalho, muita garra. É correr atrás de patrocínio, de espaço, de equipamentos, de pessoas. Portanto, não é uma receita muito fácil de fazer.

Então, preste atenção na nossa receitinha:

Ingredientes
3 xícaras de esforço
2 colheres de paciência
1 pitada de organização
Criatividade a gosto

1. Junte tudo em uma panela, misture bem. Unte com um pouco de perseverança coloque no forno. Para o recheio sugerimos curiosidade.
2. Lembre, a receita pode ser mudado de acordo com o gosto, jeito ou método do cozinheiro, pois a cultura não é algo estático.

*Este texto foi publicado originalmente na Coluna "Cultura RB" no jornal Página 20