Relatório de Gestão CMPC e Fale Conosco

domingo, 11 de janeiro de 2009

Turismo e a construção do Plano Municipal de Cultura*

Rachel Dourado da Silva - Turismóloga

O turismo é uma atividade que ganhou espaço em debates e no cotidiano das políticas públicas de Rio Branco. Na construção do Plano Municipal de Cultura, turismo inserido em Patrimônio Cultural possui uma câmara temática com 98 membros de diferentes setores do turismo. Acadêmicos, turismólogos, tecnólogos, empresários, guias, condutores, associações (ABRASEL, ABAV, ABIH) etc. Durante as discussões para o Plano de Cultura surgiram muitas preocupações, uma vez que a discussão sobre turismo nessa região é muito recente. As políticas públicas para o turismo ainda são falhas e muitos pontos estão sendo esquecidos, como inclusão social.

Tratar o tema turismo é uma possibilidade de rever práticas que não estão sendo aplicadas no cotidiano da população, já que o turismo tem como objetivo se desenvolver sem prejudicar a qualidade de vida da comunidade local e sem deteriorar ou devastar recursos naturais e culturais. Tratar o turismo com preocupações relacionadas somente à segurança e infra-estrutura, pensando em proporcionar ao viajante uma recepção adequada, exigindo da cidade receptora um conjunto de atividades interligadas para o turismo é pequeno, levando em conta o que o turismo pode abranger.

O momento é pensar políticas públicas para o turismo de forma coletiva. Devemos pensar no cotidiano da população que vive em Rio Branco. O turismo deve ser planejado com a comunidade local, no sentido de promover melhores condições de vida para os cidadãos. Como vamos desenvolver um turismo que traga retorno positivo para o município se no seu planejamento a comunidade não está inserida como consumidora de tais serviços, bens, manifestações etc.? Esse problema não é regional, é um problema do Brasil. Um país que constrói políticas públicas para turismo pensando no viajante que pode vir e trazer um retorno financeiro é pensar numa população que pode perder características naturais, culturais e sociais. Pensar o turismo nesse aspecto de retorno financeiro rápido é perder o futuro. O turismo deve ser planejado e trabalhado como sub-plano, após trabalhos sociais e culturais para/por seu povo.

Mudanças na infra-estrutura, muitas vezes, expulsam a comunidade por elevar o valor do produto final, inviabilizando o acesso ao lazer na sua cidade. Em grandes centros turísticos existem exemplos gritantes de grandes deteriorações promovidas pelo turismo. Podemos listar alguns prejuízos, como: poluição de praias e rios, falta de água, aumento da produção de esgoto, violência, exploração sexual etc. Com tudo isso, o turismo não pode ser fator positivo para essa população receptora. Pensando localmente, após algumas mudanças na infra-estrutura de alguns patrimônios, como por exemplo, o mercado velho: antes ponto que a população de baixa renda fazia uso tanto para sobrevivência, através da comercialização, como para lazer. Após essas mudanças não encontramos mais esse público. Para onde eles foram? Até que ponto isso é favorável e positivo?

Nós, como profissionais de turismo, devemos trabalhar pensando em primeiro lugar, em quem será beneficiado com isso: os pequenos produtores culturais (a comunidade que habita a região) ou as grandes empresas que acabam se instalando aqui? O turismo é uma atividade rica de possibilidades, porém, para ele ser positivo precisa se dar a partir da comunidade, essa comunidade precisa ter como garantia uma vida digna com direitos constitucionais assegurados como: educação, saúde, trabalho, segurança etc. O turismo, antes de tudo, tem que ser uma necessidade da população local.

*Texto publicado na revista "Outros Mozaicos da Cidade Nascente", produzida e lançada em dezembro de 2008, pela Fundação Garibaldi Brasil

Um comentário:

Anônimo disse...

Exatamente! Antes de mais nada o turismo deve ser pensado e planejado de dentro para fora, e não o contrário, como acontece em muitos casos. E os envolvidos no processo devem estar cientes da delicadeza e diversidade que caracteriza o turismo, essa "coisa tão cheia de braços".
Parabéns pelo texto.