Resley Saab
A doze quilômetros de Rio Branco, pela rodovia AC-40, estudantes de uma escola do ramal Itucumã aprendem um novo jeito de estudar a língua portuguesa. Incentivados a abordar temas do cotidiano, quatorze alunos da escola Tufic Assmar estão esbanjando criatividade ao produzir textos de cordéis, como parte de suas atividades multidisciplinares.
O projeto, intitulado Varal Literário, surpreende com rimas melódicas - como se caracteriza a autêntica literatura de cordel nordestina - e sobretudo, encantam o leitor por seu conteúdo bucólico, permeado de lendas e causos, geralmente repassados de boca em boca, de pai para filhos. São temas que surgem quase sempre dentro do próprio ramal onde vivem.
Quem no Acre, por exemplo, já não ouviu falar de uma tal ‘mulher de branco’, que vive pedindo carona, aliás, que já não vive mais - pelo menos neste mundo -, mas que uma vez ou outra ‘aparece’ às margens da curva do Tucumã para assombrar motoristas solitários? Ou quem já não quis ser amigo de um animal selvagem, mesmo que ele seja uma sucuri, para saber dele o que pensa a respeito da destruição ambiental pelo homem?
Tramas como essas permeiam a imaginação dos jovens autores rurais, que nesta sexta-feira, 11, fizeram uma exposição dos trabalhos para a comunidade. Alunos como Antônio Alberlândio, que descreveu sobre um sabiá que perdeu seu ninho, mas que nem por isso se abateu com as adversidades de um mundo ambientalmente ameaçado pela degradação humana. O sabiá foi fixar residência então na janela de uma garota chamada Gabriela.
“O nosso maior propósito é o de desenvolver o raciocínio, a construção da linguagem, a da arte e a da percepção de mundo, por meio de temas transversais”, frisa a gestora da escola, Queila Rezende.
Depois do Varal Literário, as atividades pedagógicas se transformaram também em peças teatrais. Uma das histórias narradas é clássica: a de um nordestino que migra com a família para a Amazônia em busca de uma vida melhor.
“O que é mais legal nisso tudo é que nos divertimos bastante, com coisas engraçadas. Passar nossas idéias para o papel não é nada fácil, mas provamos que é possível fazer com a ajuda de nossos professores”, ressalta a estudante da 7ª série, Cosma Menezes Cavalher.
A aluna Jucélia da Silva Oliveira fez seu cordel com a amiga, Suzane Batista, ambas da 6ª série, com base na estória de uma vaca caolha que se apaixona pelo boi Teobaldo e que acaba o livrando do abate fornecendo leite ao açougueiro, em troca da vida de seu amado.
Também inscrita na 1ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa, “Escrevendo o Futuro”, realizada pelo Ministério da Educação e Cultura, Jucélia concorre com um texto sobre a sua escola. “Para escrever tem que gostar de desafios porque a vida, por si só, já é um grande desafio”, dispara a estudante, em tom de quem está muito segura do que fala.
A escola Tufic Assmar tem cerca de 150 estudantes, entre os do programa de Educação para Jovens e Adultos, do ensino fundamental e do jardim.
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