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sexta-feira, 18 de julho de 2008

Lutas Populares: a cultura da resistência social

Daniel Klein*

Na preparação de todo o Sistema Municipal de Cultura de Rio Branco nesses últimos tempos, tivemos um debate que ainda não foi avaliado. Sugerimos aqui uma reflexão sobre ele, que é justamente a inserção do movimento social numa das Câmaras Temáticas do Patrimônio Cultural.

Porque o movimento social está inserido num sistema de cultura? Ou melhor dizendo, porque os atores desses movimentos se tornaram conselheiros de cultura do Município de Rio Branco? A resposta para esses questionamentos é simples se compreendermos a cultura como fazer social.


Todo é qualquer tipo de atuação social depende de uma relação interativa entre pessoas, que fazem suas experiências e as comunicam, as trocam entre si e imprimem um sentido ao seu fazer. Um ator de teatro não faz uma peça isoladamente, nem muito menos atua só para si. Ele precisa se relacionar com o outro, fazer junto, e no momento que ele mostra sua peça, já está imprimindo um sentido, que é recebido pelo expectador.

Enfim, toda essa cadeia depende do fazer social, que produz uma cultura. A idéia de cultura como fazer social é simples, mas tem implicações complexas, porque tudo que os indivíduos fazem entra na esfera cultural. Não obstante, o nosso Sistema procura dar voz a todos os fazeres culturais de Rio Branco.

Obviamente que nem todo fazer cultural de Rio Branco está inserido nas Câmaras do Sistema, mas ele é suficientemente aberto para inserção dos que estão fora. Assim aconteceu com o movimento social, que é um ajuntamento disperso, mas que procura reunir todos os movimentos que tenham como meta as lutas de reivindicação.


Toda e qualquer luta social organizada é um fazer cultural, pois depende da ação interativa das pessoas. As lutas sociais fazem parte de toda e qualquer cultura. Nada mais justo, portanto, do que a inserção de sindicatos, associações de bairro e demais movimentos populares no Sistema.

Nesse sentido, o próprio Sistema não se fecha para as lutas populares e suas reivindicações, como acontece na maioria das instituições do Estado. A partir do momento em que os movimentos sociais de resistência entraram no Sistema, as lutas e embates sociais foram assumidos oficialmente como manifestações culturais, que precisam de atenção assim como qualquer outro fazer cultural presente em suas Câmaras Temáticas.

Habitualmente o movimento social é tratado como cliente das várias secretarias de assistência social. No Acre é a primeira vez o movimento social é aceito como agente de uma instituição cultural, e de agora em diante faz-se necessário a reflexão de outras políticas culturais que trabalhem com essa esfera. Tradicionalmente se pensou cultura como arte, o que não corresponde à complexidade do real, logo, as políticas culturais, quando têm em mente esse conceito ampliado, devem ser todas repensadas.

Daniel Klein é membro da Comissão Executiva do Conselho Municipal de Cultura, representando a área de Patrimônio Cultural

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