Nina Porto*
“Posso ser o que você é, sem deixar de ser quem sou,
sem perder minha identidade, cultura e peculiaridades.”
(Marcos Terena)
O Brasil construiu seu alicerce econômico calcado no trabalho escravo, e tem uma dívida com os descendentes de africanos; depois da abolição houve um distanciamento social, a suposta abolição de 1888 fez com que negros (as) ascendessem das condições de bens semoventes para sub-cidadãos, cidadãos de segunda classe, isso porque o estado brasileiro não garantiu condições mínimas para que ex-trabalhadores escravos conquistassem sua cidadania plena, aderindo ao mercado de trabalho e obtendo acesso a terra, a educação, a alimentação. Pelo contrário o estado contribuiu para a exclusão racial incentivando a imigração européia e garantindo a estes direitos e privilégios de ser mão de obra. A partir de então, em detrimento de negros (as) a quem restara o desemprego e miséria. Entender os reflexos desses processos nos dias atuais se faz necessário para situarmos a sociedade em que vivemos.
No Brasil, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA os autos declarados negros compõem 49,6% da população, houve um crescimento de cinco dígitos, feito do bem sucedido trabalho das entidades de movimento negro, pois a forma mais violenta de racismo foi de invisíbilisar a identidade do negro através de atos discriminatórios como a supervalorização da cultura eurocêntrica, praticada em todo território brasileiro, dando menor importância e não enxergando as especificidades culturais da etnia negra, e fortalecendo principalmente junto ao mercado publicitário a estética branca como se vivêssemos em um país hegemonicamente nórdico.
Enfim, mudar esta realidade requer transformações sociais e culturais profundas numa sociedade que precisa abrir espaços e acolher de vez a diversidade. Para tanto entendo como mulher descendente de africanos e fazendo parte atuante desta diversidade, penso ser necessário trabalhar profundamente a recuperação da identidade cultural e de etnicidade historicamente negada ao povo descendente de africanos, o que fundamentalmente contribui para a baixa estima refletida na falta de perspectiva de vida. Para trabalhar com eficácia o problema em questão, é preciso conscientização assim revitalizando com profissionalização e cidadania só então atacaremos o problema da exclusão social.
Assim, junto com esta reflexão propomos projetos de capacitação e formação de jovens negros e não negros ambos comprometidos com a sociedade para a construção de um país com justiça e igualdade racial e social; através de oficinas de cultura hip-hop, movimentos de periferia, com características próprias, como: linguagem, dança, tranças - afros, escritas, grifes, utilizando pedagogicamente para o resgate da cidadania, propiciando também geração de renda e auto estima, o que conceituamos hoje de étnosustentabilidade, e então formaremos cidadãos conscientes e mais críticos, e que passem realmente a protagonizar sua própria história, e ao mesmo tempo fazer parte ativa da sociedade em que vivem.
“A Fala Pode Criar A Paz, Assim Como Pode Destruí-La”
(AMPATÉ - BÂ, LINGUÍSTA AFRICANO)
*Militante da Cernegro / Ac
2 comentários:
É importante também que se cuide do lado psicológico, principalmente das filhas de mulheres negras, pobres e vitimas de prostituição. As filhas dessas mulheres são portadoras de sequelas que lhes maltratam a alma profundamente.Isso em se falando em juventude, mas as mães também precisam de apoio psicológico junto a seus filhos. Um projeto cultural com essa amplitude certamente contriburá para o desenvolvimento social e cultural da população de modo geral e especificamente das populações afro descendentes.
A questão é fé, menina!
Pensar em resolver os problemas que afetam o desenvolvimento social de um povo, sem antes fazer justiças as mulheres é patinar, não sair do lugar. As mulheres negras e pobres, essas deveriam ser prioridades em qualquer projeto de inclusão social,na sequência, ainda por ordem de prioridade seus filhos e netos, assim também, as mulheres indígenas que ficam à pedir esmolas com seus filhos no colo. Uma cidade que não vê suas esquinas não é capaz de desenvolver humanidades e cultura.
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