Relatório de Gestão CMPC e Fale Conosco

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

E Quanto ao Patrimônio Cultural...

Maria Leudes Souza, Aretuza Bandeira de Araújo e Silmara Lima Alves*

“Cada História deve ser completa em si mesma, ou seja, uma parte não é condição para outra. Além disso, o pensamento deve ser um passeio tortuoso pela cidade, como tortuoso são os caminhos que se originam em varadouros. O Centro da cidade e o seringal são exatamente o oposto. Um é compreendido como início da cidade, sua parte mais importante, como se no seringal fosse a sede. Já no seringal, o centro é a periferia, o mais distante, o que ainda nem começou”. (Marcos Vinicius).


Qual a importância de começar, na sede do seringal, o centro da cidade? Ou, na periferia da cidade, o centro do seringal? Não tem importância nenhuma, pois o que acontece tanto no centro como na periferia, são manifestações culturais, onde os cidadãos têm o mesmo direito a se manifestar. Cada um com sua peculiaridade, uns mais sofisticados, outros mais acanhados, mas todos de uma grandeza sem tamanho. O Patrimônio Cultural do Acre é riquíssimo em suas várias manifestações, seja centro ou periferia.

Mas o que isso tem a ver com Patrimônio Cultural? Podemos dizer que é ele próprio, apresentando-se em suas mais diversas facetas. Vem vestido de uma grande imponência em seus prédios e monumentos (patrimônio material). Porém, mais importante ainda, é o que vem trajado de uma simplicidade, mas de uma riqueza sem tamanho (patrimônio imaterial). Nossos fazeres e saberes, costumes, gestos e falas, características de uma comunidade aprendidos no dia a dia, na convivência com os grandes mestres, os mais antigos.

Algumas perguntas ficam martelando em nossas cabeças: o que é Patrimônio Cultural? Como fazer para que as pessoas se apropriem do que é seu realmente? São inquietudes que não só as Fundações de Cultura nutrem, são inquietações nacionais. No entanto, não conseguimos o grande ponto da questão, que é o acesso daqueles que continuam nos Seringais, ou seja, nas “periferias”, para que eles se identifiquem e se reconheçam como sujeito atuante desse patrimônio.

A Fundação de Cultura Garibaldi Brasil deu um passo à frente com a I Conferência de Políticas Públicas para a Cultura, porque a partir daí, começamos a colocar em prática o que já sabíamos: que é impossível fazer com que a comunidade se aproprie de uma manifestação, seja ela artística, esportiva, ambiental ou até mesmo o reconhecimento das identidades culturais das comunidades que fazem parte do Patrimônio Cultural de Rio Branco, que por muitos anos não se sentiam, ou não se viam dentro desse processo.

Mas ela foi além quando trouxe para dentro da própria Fundação, os mais diversos segmentos da área cultural para serem discutidos. Cumprindo assim, o que é proposto no mundo inteiro, onde a agenda 21 tem como “objetivo base o comprometimento com os direitos humanos, a diversidade cultural, a sustentabilidade, a democracia participativa e a criação de condições para a paz”.

Mas sabemos que o passo mais importante nesse processo de construção para a I Conferência Municipal de Cultura é a participação daqueles que nunca estiveram representados, os movimentos sociais, associação das mulheres do Bairro Seis de Agosto, Zona Rural, a comunidade das mais diversas representações religiosas... Isso sim, foi o primeiro e grande passo para a democratização da manifestações culturais.

Mas falando em Patrimônio Cultural, não podemos deixar de ressaltar a importância da preservação e manutenção dos espaços, salas e museus que salvaguardam parte das memórias da comunidade rio-branquense e as suas diversas representações. Desse modo, faz-se necessária a criação e implementação de uma Lei Municipal de Patrimônio Cultural, que visa a reforçar e garantir a proteção e a preservação dos bens culturais, pois se não sabemos o que é patrimônio cultural como podemos querer proteger aquilo que não conseguimos perceber?

Patrimônio Cultural é o teatro, mas é também um figurino específico para a montagem da mesma que nele é apresentado; é um instrumento de música, mas também é a forma como ele é tocado; é a farinha, mas também é a forma como ela é feita. Enfim, o que importa não é o que é mais sofisticado e o que é menos sofisticado, o importante é a grandeza com que elas se manifestam e representam para aqueles que a fazem.

A diversidade cultural de um povo é tão significante que outros se deslocam de origem para conhecê-lo, vêm em busca de verem manifestações culturais, monumentos, fazeres e saberes que não encontram em outro lugar. O mesmo se pode dizer do turismo cultural, que hoje é um dos maiores segmentos deste setor, e que continuamente vem crescendo graças ao processo de globalização, que aproxima cada vez mais povos e nações. No entanto, a localidade para ter um bom conceito de receptividade precisa agradar primeiro aqueles que nela habitam e fortalecê-la, para que assim, sejam agradáveis aos visitantes.

Portanto, se o povo sabe e reconhece o seu Patrimônio Cultural, conseguirá transmitir isso de alguma forma para aqueles que o vêm conhecer, gerando com isso, diversos benefícios para a população, dentre eles: aumento da consciência de preservar o bem patrimonial, resgate da cultura local, maior intercambio cultural, geração de emprego e renda, melhoria da infra-estrutura, entre outros.

*Diretora da FGB, Coordenadora de Patrimônio Histórico da FGB e Coordenadora de Turismo FGB (respectivamente).

2 comentários:

Anônimo disse...

A globalização e o futuro da cultura no mundo não hegemônico,identidade e autonomia, educação e solidariedade e diversidade cultural são pautas culturais de um "Novo Tempo" que devem ser abordadas logo que termine os impasses da criação do Sistema, para que possamos ter perspectivas de produção e circulação de valores.

Anônimo disse...

"Iê! Peço licença que agora eu vou contar, a história de uma luta, a história da escravidão..."
CAPOEIRA,
...Nasceu da união de um povo que sofreu (e ainda sofre) os mais terríveis castigos e humilhações.
Da vontade de liberdade, de VIDA, de lutar por seus ideais, nasceu a Capoeira.
Negros e negras lindos, cheios de sonhos e amores.
Com uma cultura tão rica e sólida, que foi capaz de resistir a todos os tipos de discriminações, preconceitos e resistências, e transformou (para sempre) toda a identidade de uma nação.
Salve a cultura negra!
Salve todos os seus Guias!
Salve todos os seus Mestres!
Salve todos os seus rituais, religiões, costumes,cheiros, pensamentos, cores, sabores amores...
Salve a capoeira!
Que todas as correntes, que ainda teimam em amarrar nossa luz, sejam levadas pra's bandas do Mar Sagrado, que nossa Mãe Iemanjá vai dar um bom banho de Sal Grosso!
Que a união, que fez a diferença no passado, que construiu nossa história, que nos libertou da escravidão, que nos fez filhos do Brasil possa, mais uma vez, fazer a diferença e garantir a preservação e os direitos da mais rica identidade cultural brasileira.
"...Sem capoeira não posso viver, sou peixe fora do Mar, passarinho voar, dia sem escurecer..."
Axé!