Escrito por Giselle Lucena
No início da década de 1980, artistas como Raul Seixas, Lulu Santos e Maria Bethânia se reuniram no projeto musical “Plunct, Plact, Zuuum”, para crianças e adolescentes. Recentemente, Arnaldo Antunes, Edgard Scandurra e Taciana Barros realizaram o show “Pequeno Cidadão”, com a participação de seus filhos. Na sequência, a produção musical brasileira lançou Adriana Calcanhoto, no “Partimpim”, e Pato Fu, com o “Música de Brinquedo”. E assim, o universo das crianças é revisitado por meio da obra de diversos artistas em todo o país.
A acreana Vanessa Oliveira também enveredou por esse caminho. Ela conduz o grupo Capim Limão no “Show pra gente grande e gente pequena”, de temáticas infantis para todas as idades, convidando adultos e crianças a se olharem e a se verem do mesmo tamanho. A artista, com experiências em projetos de música, literatura e teatro, conta que o processo de experimentação é uma brincadeira em si, numa busca de novos efeitos e resultados.
Afinal, crianças precisam de obras de arte apropriadas para a sua faixa etária. Mas, o que acontece quando um adulto lê um poema infantil? Nessas experiências, são vividos processos de construção, desconstrução e reconstrução da memória e da identidade. “Sabemos que a criança é a base do adulto. Não é à toa que qualquer dificuldade ou sensibilidade que temos está relacionada a alguma experiência que vivemos na infância”, explica Vanessa.
O projeto “Um show pra gente grande e gente pequena” é o primeiro trabalho musical que ela faz como cantora principal. Contemplado no “Acústico em Som Maior”, o show teve temporada no Theatro Hélio Melo, em 2010. Com a boa repercussão e aceitação do público, Vanessa recebeu propostas para realizar outras apresentações em eventos e atividades do Estado. Com isso, decidiu investir em um desdobramento do projeto. “Revimos a experiência e preparamos outra versão, agora adaptada ao formato itinerante, a ser apresentada em escolas”, diz.
Educação e Cultura
Com os avanços no debate e na construção de políticas públicas para cultura, já é reconhecida a importância de promover o diálogo com a educação. Mas um dos desafios comumente vividos por artistas e gestores, diz respeito a como selecionar a escola para qual a atividade será levada. Uma apresentação artística, afinal, precisa de condições específicas para a sua realização: sonorização, iluminação, cenário etc. Há apresentações possíveis de serem levadas para qualquer espaço, ruas, praças e coretos; já outras não.
Além disso, há escolas em que os alunos já têm acesso regular aos bens artísticos da cidade. “Ao mesmo tempo em que lidamos com a pouca estrutura em algumas escolas para receber determinadas apresentações, encontramos também, escolas em que alunos são mais exigentes”, conta Marília Bonfim, arte-educadora e coordenadora do centro de Multimeios - SEME/Rio Branco.
Para a arte-educadora, é fundamental que, no processo de ensino da arte, os alunos possam conhecer e apreciar grupos culturais locais. “Desenvolver a formação de público deve ser um trabalho contínuo. Por isso, procuramos analisar qual tipo de apresentação se enquadra melhor em cada escola”, explica Bonfim. Nesse sentido, segundo ela, há o objetivo de levar pelo menos uma atividade para todas as escolas municipais. Assim, a arte, que nunca deixa de ser para todas as idades, visita o lugar onde a infância e a educação realmente se fazem: na escola.
Tempo, espaço e conteúdo
Linguagens teatrais, musicais e literárias compõem o show que conduz o público a uma viagem no tempo. “As letras de cada música são importantes pelas mensagens que passam, todas tratam de algo do imaginário infantil”, conta Oliveira. O repertório inclui artistas locais e nacionais como Francis Mary e Milton Nascimento; bem como brinquedos cantados acreanos, como o Nambú-Nambú e cantigas indígenas.
A apresentação se transforma em um show lúdico e artístico, para sentir, ouvir, ver e se reconhecer. “Este trabalho é a reunião de amigos artistas e seus filhos, que já trilham o caminho da arte”, comenta Vanessa. “Nos ensaios e no palco, somos do mesmo tamanho, às vezes até fazemos birras. As crianças também participam da concepção, dando ideias, criando outros arranjos de voz, e são bem sinceras ao nos indicar se estamos indo bem e agradando”, descreve.
Esta edição do projeto conta cinco apresentações: as duas primeiras aconteceram na última sexta-feira (20), na Escola Francisco Augusto Bacurau, na Vila Betel - Bairro Floresta. As próximas acontecerão na Escola Maria Lúcia Moura Marim, Bairro Morada do Sol, no dia 30 de abril, às 9h e às 15horas. A quinta e última apresentação vai acontecer no dia 07 de maio, durante o Encontro de Diretores e Coordenadores das Escolas Municipais, no Teatro Plácido de Castro.
SIGA A TRILHA
Há pessoas que desde criança sabem o caminho que querem trilhar. Algumas o seguem; outras, simplesmente são levadas por caminhos que logo sabemos onde irão chegar. Cada passo de Vanessa Oliveira serviu para compor seu repertório e construir seu acervo cultural. Desde 2007, ela realiza trabalhos musicais e participa de atividades de contação de histórias e de incentivo à leitura. Vanessa foi backing vocal e instrumentista para artistas como Keila Diniz, Seu Antônio Pedro, Rodolfo Minari, Zé Jarina e grupo Jabuti Bumbá. Ela atuou na Casa de Leitura da Gameleira, da Fundação Elias Mansour; e nas atividades da Fundação Garibaldi Brasil.
A artista guarda, ainda, uma experiência teatral no Grupo Vivarte; fez o Curso de Música da Usina de Artes João Donato, e é acadêmica de Letras da Universidade Federal do Acre – UFAC.
CONHEÇA A TRUPE
O show é composto por gente de todas as idades. Além de Vanessa Oliveira, que faz voz, violão e a direção artística, compõem o grupo Capim Limão: Maiara Rio Branco (Contra-baixo e Direção Musical); Ronaldo Spock (Guitarra e Direção Musical); Marilua Azevedo (Percussão e Sonoplastia); Miguel Mauri (Percussão e Produção Geral); Victoria Elisabeth (Backing Vocal); Niina Valkiria e Vinicius Gabriel (Coro infantil); Alice Raquel (Dança) e Isabel Carvalho (Atriz); Heide Geniffer (cenário); Talita Oliveira, Cinthia Davanzo e Alexandre Noronha (registro fotográfico); Beth Oliveira e Lívia Sales (assistente de produção); Thiely Mariano (figurino); Selene Fortini (material gráfico); Flávia Burlamaqui (assessoria de projeto).
O projeto é financiado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura da Fundação Garibaldi Brasil, com patrocínio da Coop Serge, e a parceria da Secretaria Municipal de Educação de Rio Branco, por meio do Centro de Multimeios e também do Pium Fotoclube. Para saber mais sobre o projeto e contatar o grupo, envie e-mail para: grupocapimlimao@gmail.com.
Nenhum comentário:
Postar um comentário