Relatório de Gestão CMPC e Fale Conosco

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Sensibilidade Cultural

ou: engravatados também amam

Chegaram todos eles com suas gravatas e paletós, e logo notou-se que não eram dali. Não que fossem forasteiros – o que de fato alguns eram – mas aquele não era seu habitat natural. Fez-se o contraste. A iniciativa privada, e toda a sua formalidade, com a cultura, e sua informalidade, estavam juntas em uma parceria com o mesmo objetivo. O acordo para o patrocínio de projetos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura. E parece até engraçado que enquanto o Brasil, e o Acre, discute os erros, defeitos e acertos dessa Lei, a iniciativa privada no nosso estado comece agora a perceber as vantagens que ela oferece para os comerciários e industriários.


Não apenas em Rio Branco, mas em todo o Brasil se discute muito como a iniciativa privada pode começar a participar e ser um fomentador, patrocinador e incentivador da Cultura. Será o papel somente do Estado zelar pela Cultura? De que forma? Como? Em quais parâmetros? Questões essas que já cansamos – nós, fazedores, gestores, produtores e tantos outros “ores” que trabalham, vivem e respiram cultura – de pensar e tentar responder. Não é fácil. Como sensibilizar os “homens dos negócios”, os “engravatados” que pela primeira vez entram em um seringal-parque e participam de uma solenidade onde as pessoas não assistem sentadas e caladas, chamando as pessoas por “senhor gestor” ou “senhor presidente”, mas brincando, se divertindo e muitas vezes cobrando e reclamando.

Mas isso não significa que eles sejam insensíveis. Muito pelo contrario. Cada um daqueles homens que estiveram na solenidade de parceria da FGB com o Banco do Brasil e a UNINORTE são pessoas. E como todo ser humano, tem sentimentos, se emocionam. Vivem e choram. E é isso que a Cultura, em todos os seus campos, seja artístico, histórico ou cultural, proporciona. Como foi dito no evento “às vezes é difícil entender toda essa dinâmica tão viva na cultura”. É difícil. Às vezes nós mesmos não nos entendemos. Brigamos, discordamos... Mas é isso que faz da cultura o que ela é. Essa pluralidade, individualidade em coletividade. Paradoxos que se complementam.

E o evento desta terça-feira é um exemplo de como esses paradoxos e essas discussões geram resultado. Na ocasião também foi lançado o I Edital de 2009 do Fundo Municipal de Cultura. Isso mesmo, aquele que foi discutido no último Fórum Setorial Integrado. Viu como é importante participar dessas reuniões? O resultado está aí. Agora os produtores podem fazer a outra parte do processo, que é pensar suas idéias, passar para o papel nos moldes de projeto e apresentar no edital. Já estamos até vendo a fila de projetos a serem entregues no último dia, 13 de julho. E depois disso tem muito mais. A avaliação, o resultado, a entrega do recurso, os projetos que começam a ser desenvolvidos, o acompanhamento, a prestação de contas. Ufa! Quanta coisa.


Tudo isso ainda tendo que participar de reuniões, e discutir, avaliar e pensar. Afinal é nessas reuniões que, como foi dito no Fórum Setorial de Audiovisual realizado nesta quinta-feira, o poder público chora de um lado as suas dificuldades, a sociedade civil chora de outro, todos cobram e juntos tentamos com criatividade encontrar soluções. E foi o que aconteceu. Eles sentaram e pensaram o que o segmento quer. O que foi construído até agora? O que precisa construir? Aonde queremos chegar? E como vamos fazer para chegar até lá? Como vamos formar público? Temos espaços? Como construir? Mas pra que espaços sem produção? Sem formação? Como formar? Foram essas e muitas outras questões que formaram o debate dos grupos de trabalho do Fórum.

Esse é o objetivo deles, que estão começando através das câmaras municipais e estaduais, em parceria com as várias entidades culturais de cada segmento. Uma luta que precisa da participação cada vez maior da sociedade civil. O Audiovisual foi o primeiro, e muitos outros segmentos começam a se movimentar. Logo estaremos vendo os segmentos do Teatro e da Música fazendo o mesmo.

Mas ainda temos muito que fazer, trabalho é o que não falta. E como ouvi pelos bastidores da organização do Fórum “A gente muitas vezes briga, debate, não concorda um com o outro, mas o caminho a ser trilhado é o mesmo.” As discussões devem servir para movimentar, criar, discutir, e não o contrário. Discordância sim! De idéias, conceitos e objetivos. É isso que faz a roda, sempre tão mutável da cultura, girar. E quando nos unimos, apesar de nossas diferenças, para pensar e encontrar soluções, trabalhando em algo que vai beneficiar a todos – desde o produtor cinematográfico de um documentário até o vendedor de pipoca na praça em uma exibição pública – nós fazemos a diferença. E podemos, sim, sensibilizar os engravatados. Que são gente como a gente. E que podem, mesmo não sendo acostumados a entrarem em seringal-parque e ouvir os causos de um seringueiro na hora do expediente, perceber que dentro daquela informalidade existe uma organização e uma participação tão grande que é impossível ignorar.

2 comentários:

Aurélia disse...

Quando cheguei no parque os engravatados estavam juntos, numa rodinha, no estacionamento, ajeitando as suas gravatas, sorrindo, olhando às vezes desconfiados para os lados... Quando encontrei os sem-gravatas mais adiante perguntei, ei, quem são esses caras aí? e logo soube que 'era o pessoal do Banco'. Mas não foi mesmo uma grande surpresa ouvir um deles, gravata e tudo, suando bicas e contando um bom causo logo depois? Certas cenas são, como dizem na publicidade, sem preço...

GiselleXL disse...

Antes tarde do que nunca! =D