Relatório de Gestão CMPC e Fale Conosco

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Casinha com gosto de arroz sem sal

Inauguração do Centro de Cultura revive o espírito da antiga morada e os hábitos doces de dona Neném Sombra

Prefeito Angelim e as Pastorinhas

A manhã da última segunda-feira (27) foi marcada por uma festa simples, porém emocionante e alegre, no Bairro Quinze. No dia em que completaria 100 anos de nascimento da dona Neném Sombra, sua antiga casa recebeu o prefeito Raimundo Angelim, produtores culturais, líderes comunitários, familiares da homenageada e moradores da região. Tudo por conta da inauguração do Centro Cultural Neném Sombra.

Através de recursos do Processo de Gestão Participativa, a revitalização da casa custou pouco mais de R$ 200 mil e se torna um espaço para as mais diversas manifestações culturais do Segundo Distrito de Rio Branco. Entre as principais modificações estão a revitalização da edificação já existente, que era de 130,74 metros e a construção de um salão coberto, ao fundo da casa, com uma área de 108,35 metros quadrados. As características originais da casa foram mantidas.

Entre as atrações da solenidade, foi promovida uma celebração católica, seguida da apresentação d’As Pastorinhas. O grupo de dança, formado por crianças do bairro Seis de Agosto, é dirigido por dona Guajarina, filha de dona Neném. João Veras, neto de dona Neném, recitou o poema “Tudo até a Cadeia Velha” que lembrava os tempos de criança quando visitava sua avó e do gostinho de arroz sem sal, entretanto, delicioso.


Era comum entre as pessoas presentes que conheceram com dona Neném a lembrança de como era a rotina na casa. Vejamos alguns depoimentos sobre a inauguração e sobre o convívio com dona Neném:

“Presenciar essa inauguração desta casa que leva o nome da antiga moradora, Dona Neném Sombra, é uma satisfação. Tratava-se de uma mulher muito especial. Ótima amiga e vizinha.” Rosita Frota, vizinha durante 52 anos

“Uma lembrança que me marcou nesta casa e na convivência com a Dona Neném, sem dúvida, era o seu papagaio. Era um bicho muito valente. Além disso, sempre avisava quem chegava para visitar a casa.” Terezinha Soares, vizinha

“É uma emoção muito forte. Minha avó era um exemplo de vida. Era ativa e sempre mobilizava a comunidade, marcando sua trajetória com lutas e conquistas. Sua história se confunde com a do bairro do Quinze." Sandra Maria de Lima França, neta

“Estou emocionada com toda a festa de inauguração da casa. Ela foi uma mãe para mim e é merecida a homenagem à Dona Neném.” Maria José, nora

Tudo até à Cadeia Velha *

João Veras

É manhã de sábado.

Minha mãe e eu descendo o barranco.

A lenta catraia nos atravessa no Rio Acre.

Rumamos à imensa casa do bairro Quinze.

O papagaio sem cerimônia anuncia a visita.

“Dona Neném ta na igreja, mas já volta”

O longo corredor e, ao fundo, a bacia de lavar as mãos, a toalha e o espelho.

Espalhadas todas as mágicas plantas de plástico.

E existe um profundo quintal de esconderijos.

Na cadeira de balanço, um senhor sem palavras lendo.

O que tanto lia vô João?

Vó Neném: sorriso terno nas prendas da bondade.

À mesa, nós quatro e o almoço sem sal.

Um descanso depois da refeição.

Mas eu, insone, de olhos abertos na imensa casa, no profundo quintal de esconderijos.

De tardezinha, após as bençãos, novamente o rio, a catraia, a travessia...

Eu e minha mãe subindo o barranco.

Tudo até à Cadeia Velha.

*Poema dedicado à inauguração do Centro de Cultura Dona Neném Sombra



Um comentário:

Anônimo disse...

que poema lindo. Vou usar em sala de aula com meus alunos. Parabéns ao joão, grande poeta.
Célia (professora)