A manhã da última segunda-feira (27) foi marcada por uma festa simples, porém emocionante e alegre, no Bairro Quinze. No dia em que completaria 100 anos de nascimento da dona Neném Sombra, sua antiga casa recebeu o prefeito Raimundo Angelim, produtores culturais, líderes comunitários, familiares da homenageada e moradores da região. Tudo por conta da inauguração do Centro Cultural Neném Sombra.
Através de recursos do Processo de Gestão Participativa, a revitalização da casa custou pouco mais de R$ 200 mil e se torna um espaço para as mais diversas manifestações culturais do Segundo Distrito de Rio Branco. Entre as principais modificações estão a revitalização da edificação já existente, que era de
Entre as atrações da solenidade, foi promovida uma celebração católica, seguida da apresentação d’As Pastorinhas. O grupo de dança, formado por crianças do bairro Seis de Agosto, é dirigido por dona Guajarina, filha de dona Neném. João Veras, neto de dona Neném, recitou o poema “Tudo até a Cadeia Velha” que lembrava os tempos de criança quando visitava sua avó e do gostinho de arroz sem sal, entretanto, delicioso.
Era comum entre as pessoas presentes que conheceram com dona Neném a lembrança de como era a rotina na casa. Vejamos alguns depoimentos sobre a inauguração e sobre o convívio com dona Neném:
“Presenciar essa inauguração desta casa que leva o nome da antiga moradora, Dona Neném Sombra, é uma satisfação. Tratava-se de uma mulher muito especial. Ótima amiga e vizinha.” Rosita Frota, vizinha durante 52 anos
“Uma lembrança que me marcou nesta casa e na convivência com a Dona Neném, sem dúvida, era o seu papagaio. Era um bicho muito valente. Além disso, sempre avisava quem chegava para visitar a casa.” Terezinha Soares, vizinha
“É uma emoção muito forte. Minha avó era um exemplo de vida. Era ativa e sempre mobilizava a comunidade, marcando sua trajetória com lutas e conquistas. Sua história se confunde com a do bairro do Quinze." Sandra Maria de Lima França, neta
“Estou emocionada com toda a festa de inauguração da casa. Ela foi uma mãe para mim e é merecida a homenagem à Dona Neném.” Maria José, nora
Tudo até à Cadeia Velha *
João Veras
É manhã de sábado.
Minha mãe e eu descendo o barranco.
A lenta catraia nos atravessa no Rio Acre.
Rumamos à imensa casa do bairro Quinze.
O papagaio sem cerimônia anuncia a visita.
“Dona Neném ta na igreja, mas já volta”
O longo corredor e, ao fundo, a bacia de lavar as mãos, a toalha e o espelho.
Espalhadas todas as mágicas plantas de plástico.
E existe um profundo quintal de esconderijos.
Na cadeira de balanço, um senhor sem palavras lendo.
O que tanto lia vô João?
Vó Neném: sorriso terno nas prendas da bondade.
À mesa, nós quatro e o almoço sem sal.
Um descanso depois da refeição.
Mas eu, insone, de olhos abertos na imensa casa, no profundo quintal de esconderijos.
De tardezinha, após as bençãos, novamente o rio, a catraia, a travessia...
Eu e minha mãe subindo o barranco.
Tudo até à Cadeia Velha.
*Poema dedicado à inauguração do Centro de Cultura Dona Neném Sombra
Um comentário:
que poema lindo. Vou usar em sala de aula com meus alunos. Parabéns ao joão, grande poeta.
Célia (professora)
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