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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Economia para a cultura

O pensamento econômico focado para o cotidiano do produtor cultural


Em tempos de sistema capitalista, temas subjetivos ainda causam confusão na lógica de mercado. Cultura é um desses pontos que provocam questionamentos. Nos dias 11 e 12 de novembro, no auditório da Biblioteca da Floresta Marina Silva, foi realizada a oficina “Economia da Cultura” dando continuidade no processo de qualificação dos produtores culturais de Rio Branco na construção do Plano e Sistema Municipal de Cultura.

Logo no início foram convidados para compor a mesa, Lenine, conselheiro do segmento de artes cênicas, e Marcos Vinícius, presidente da Fundação Garibaldi Brasil. Lenine ressaltou a importância da cultura além dos palcos. “Na visão das pessoas, a cultura está presa às manifestações artísticas. Porém, saberes e fazeres culturais são muito mais do que isso. Todo dia, todos nós fazemos cultura. Devemos valorizar essas ações e conhecimentos. Precisamos refletir como a economia vai agir na cultura, neste caso, de Rio Branco.”, disse Lenine.

Marcos Vinícius lembrou o hábito dos rio-branquenses de não dar valor de mercado para a produção local, tendo como costume esperar receber o produto cultural como brinde. “É difícil dar o devido valor às produções culturais. É comum em nosso cotidiano que os produtores não recebam por isso. É comum todos quererem ganhar, e não pagar pelo produto. Para fazer ações na economia é necessário analisar as particularidades da região. A nossa função é construir o nosso próprio caminho no Acre, com a ajuda de experiência como da Ana Carla.”, concluiu Marcos Vinícius.

Para que, afinal, serve a economia da cultura?

De acordo com a oficineira Ana Carla Fonseca Reis, fundadora da empresa de consultoria Garimpo de Soluções - economia, cultura e desenvolvimento, “economia da cultura serve para nos auxiliar no caminho do desenvolvimento econômico”.

Para entrar no debate, Ana Carla apresentou algumas perguntas que estimularam a reflexão sobre a cultura vista do ponto de vista econômico. A economia da cultura deve ditar a política pública de cultura? Somente a produção cultural de mercado deve receber investimentos? A Economia da cultura pode orientar a política de desenvolvimento? Essas e outras questões foram levantadas durante a oficina.

Segundo Ana Carla, os investimentos não podem se limitar exclusivamente à produção cultural de mercado. O produtor que não segue exclusivamente a lógica mercadológica também merece e precisa de incentivos para dar continuidade ao seu trabalho. Além disso, as políticas públicas culturais não podem ser ditadas pela economia. “O processo criativo não deve sofrer a interferência apenas para vender.”, explica. Também foi discutida a influência do crítico sobre as obras do artista, chegando à conclusão que essa figura é importante, porém não deve ser o combustível para a produção cultural.

Porém, a economia da cultura pode dar rumos em relação às políticas de desenvolvimento econômico. “Dinheiro deve ser tratado como o meio, e não o fim. Precisamos ganhar dinheiro para chegar a algum lugar e dar uma melhor qualidade de vida, mas sempre dando ênfase ao produto cultural como forma de expressão do produtor.”, afirma Ana Carla.

A sugestão da oficineira foi pensar em cinco fluxos, que seriam:

      • Fluxo histórico – de momentos a continuidades.
      • Fluxos entre “disciplinas” – o caleidoscópio da cultura.
      • Fluxos de pessoas – tendências turísticas em busca do singular + migratórias (por opção ou por falta dela).
      • Fluxos de bens e serviços culturais – barreiras e acordos internacionais.
      • Fluxos de interesses convergentes – públicos, privados e civis complementares vs. antagônicos.

Durante a oficina, a evolução da relação de cultural e mercado foi apresentada, tendo como exemplos que vão do ano 30 a.C. até a Revolução Industrial. Marcas e seus valores agregados nos mais diversos campos culturais, patentes e imposições culturais foram discutidos. A discussão sobre os valores agregados aos produtos culturais teve como ponto principal a educação. “Para se ter liberdade de opinião é preciso haver educação formal e educação informal”, diz Ana Cláudia.

Uma das soluções para valorizar de maneira justa o bem ou fazer cultural é se analisar as pesquisas para conhecer e conquistar novos públicos. Através desse tipo de trabalho é possível detectar os motivos para não participação e setores culturais.

Outra frente de atuação da economia da cultura é o turismo cultural. Esse caminho tem exemplos de boas experiências no Brasil e no mundo. Bilbao e Barcelona na Espanha, Detroit nos Estados Unidos, Paraty, entre outros foram citados por Ana Cláudia. Em todos eles, o procedimento para desenvolver o turismo levou em conta os seguintes fatores: mapeamento do turista, investimentos do governo e estudo sobre o mercado de turismo.

Finalizando a oficina, iniciou-se a elaboração e debate de alguns eixos importantes para a construção do Plano Municipal de Cultura de Rio Branco. Foram detectados em parceria através de grupos formados com o público da oficina, questões para fomentar a reflexão dos presentes, levando em consideração as particularidades da nossa cidade. E dessa forma, as oficinas de qualificação vêm movimentando e motivando os produtores culturais de Rio Branco na construção do Plano e Sistema Municipal de Cultura.

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