Relatório de Gestão CMPC e Fale Conosco

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Sobre Cidadania Cultural

Pela primeira vez na vida, muitos de nós estamos tendo a oportunidade de vivenciar um processo de construção de políticas públicas para a cultura.

Pela primeira vez, na vida de muitos de nós também, essa dinâmica social adquire um caráter horizontal, e as relações não se articulam mais através de papéis predeterminados - cada situação exige uma nova configuração no tabuleiro do querer, do fazer e do poder.

Tudo está sendo construído, re-construído, desenhado, revisado - oferecendo, provocando e exigindo novas leituras, novas prioridades, novas escolhas e, igualmente, trazendo novas incertezas.

Como pensar a construção de políticas públicas para a cultura em uma realidade tão mutável? Que repertório de valores podem integrar um Plano Plurianual para a cultura de Rio Branco? Como aliar a democratização crescente com a interdependência urgente? Qual o papel institucional na orientação de conteúdos a serem discutidos nas Câmaras Temáticas, nos Fóruns Setoriais, nas Conferências - a fim de forjarem as políticas a serem construídas? E como essas políticas públicas para a cultura podem promover valores e ações - para gerar alternativas de vida e de convivência? E mais: se tudo nos impele a voltar nosso olhar cada vez mais para nosso ego - como garantir o respeito, a tolerância, o acolhimento às plurais diferenças?

Estamos em processo de implementação do Conselho Municipal de Políticas Culturais, acompanhando a criação e o funcionamento das Câmaras Temáticas, dos Fóruns Setoriais, dos Colegiados que fazem a ponte entre as Câmaras e os Fóruns, da Comissão Executiva. Alongamos nosso currículo de reuniões com sujeitos e grupos os mais diversos, que hoje lançam suas vozes através de suas Câmaras Temáticas - 11 de Arte, 10 de Patrimônio Cultural e 14 de Esporte e confirmam suas vontades nos Fóruns Setoriais.

Esses espaços estão nascidos e pulsando a energia acumulada de muitas vontades. Vão nos dizer que políticas precisamos construir, como distribuir os recursos, como dar atenção às mediações entre a economia e a cultura, como diversificar as fontes de captação de recursos e sair da dependência das leis de incentivo à cultura, como qualificar o trabalho cultural e consolidar as muitas profissões existentes, e ainda marginais, nesse vasto campo dos fazedores da cultura.

Contamos com a participação de muitos desses fazedores, realmente comprometidos com o desenvolvimento da cultura local. Por muitas vezes deixam o seu ganha pão diário, suas famílias, seus raros momentos de lazer – para se comprometer, através da participação, do exercício constante do diálogo (falar, ouvir, recuar, abrir mão, rir da briga perdida, arriscar, avançar...), da pactuação, das decisões – da cidadania cultural.

Aprendemos juntos uma pedagogia da convivência, privilegiados que somos diante de uma oportunidade singular, que nos permite pensar em novas formas de organização, em novos sistemas de relacionamento, de metodologias para enfrentar conflitos, conferir avanços, descobrir espaços de convergências e valorização do exercício democrático, maneiras de exercer o cuidado, entre muitas outras coisas.

Pensemos então a cultura considerando a sua natureza, que acolhe as múltiplas dimensões do ser (suas aspirações e potencial criativo) e do fazer. Motivemo-nos pelo que é possível imaginar e não apenas pelo que é possível imaginar como possível. Conscientes de que a cultura nunca poderá resumir-se apenas a utopias, mas jamais poderá prescindir delas.

Eurilinda Figueiredo
Diretora de Cultura da FGB

2 comentários:

Anônimo disse...

Ai, ai , ai que lindo...
Gostei...
Qdo escrever meu texto, tu revisa ele?
Bjus
Cely Melo

Anônimo disse...

Eu tbm gostei, é uma ingeção de ânimo na galera! Um texto com propriedade, falando do processo em que estamos vivenciando... legal!!!!!!!!!