Relatório de Gestão CMPC e Fale Conosco

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Sobre a Consciência Negra

Eudmar Bastos*

Estamos na semana da consciência negra, e vale algumas reflexões em várias vertentes. Uma delas é com relação à concepção do que é ser negro. Será que ser negro é ter a pele preta ou cometer erros e responder pela coletividade?

Será que é ter sua luta pautada pela ancestralidade ou será que não ter a mínima condição de sobreviver em sua maioria?

Será que tem haver com presença maciça nos presídios ou estar sempre nos fundos das lojas porque senão compromete a linha de frente? E alguns outros questionamentos.

Quero dizer parafraseando o grande poeta do samba Jorge Aragão, “que não tem nada haver com a cor alguém sambar, porém, tem tudo haver com a cor saber gingar”.

O povo negro não é escravo e nunca foi, pois, e desta sim, copiando meu irmão José Arimatéia que já pegou um gancho da amiga Nina Porto, eu não conheço nenhum país chamado Escravolandia.

Somos descendentes de Africanos sim e com muito orgulho. Fomos escravizados sim e lutamos até hoje pela nossa libertação, mas não de nossos corpos e muito menos das nossas mentes, lutamos pela libertação de nossos direitos que foram surrupiados na maior cara de pau por políticas públicas do Estado Brasileiro.

Hoje esse mesmo Estado Brasileiro está tentando reverter o quadro através de políticas públicas voltadas para a construção da igualdade racial.

No entanto, ainda é muito pouco pelo que nos foi roubado, pelo que o nosso povo sofreu, pelas mães negras que tiveram seus filhos arrancados dos seus seios e alguns até de seus ventres, pelos príncipes, princesas, rainhas e reis que foram sacados sem nenhum consentimento da sua mãe África.

Participando desta luta pelo país, vemos vários tipos de quilombos contemporâneos, com um tipo de luta diferente dos primeiros Quilombos.

Mas não podemos esquecer nesta luta a forma com que Zumbi dos Palmares fez para conseguir enfrentar a tudo que passou.

Não devemos esquecer nunca da nossa ancestralidade, da inteligência negra de aprender com outros segredos importantes e de nunca desistir da luta que nos cerca a todo o momento.

Somos heróis sim e protegidos por nossos Orixás, Voduns e Inkices, por nossos mais velhos, e é maravilhosa a nossa beleza, nossa manha, inteligência, virtude, a nossa garra, a nossa vontade de sobreviver e ser feliz.

Ser negro é sinônimo de luta e esperança de um dia sermos libertos de verdade. Não queremos nada que não seja nosso, só queremos o que é nosso de direito.

Mais uma vez citando o poeta Aragão, “se você me respeita, pode até me chamar de pretinho, neguinho e coisa e tal”. Axé para todos e todas e viva Zumbi dos Palmares.

*Militante do Movimento Negro pela ONG CERNEGRO/ACRE – Centro de Estudos e Referência da Cultura Afro-Brasileira do Acre, Ogãn da Nação de Angola e Acadêmico de História pela UFAC.

As fotos são da exposição "Indentidade Afro-Amazônica", no Memorial dos Autonomistas e das manifestações artísticas durante o show da Consciência Negra, no último dia 20, na Rua 1º de Maio, antiga Rua África. Clique em cima delas para vê-las ampliadas.

Nenhum comentário: