Relatório de Gestão CMPC e Fale Conosco

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A escolarização da cultura*

ou a culturalização da escola?


Saiu uma matéria em âmbito nacional que falava sobre a volta da música na grade curricular das escolas ate 2011 segundo a lei nº 11.769. Isso mesmo, voltar, porque até 1956 essa expressão artística era ensinada nas salas de aulas.

O objetivo desta lei é dar maior acesso a cultura nas salas de aula, tendo em vista que os estudantes, principalmente do ensino fundamental, são a base para a criação de um público cultural que é debilitado não apenas no Acre, como em todo o Brasil. Se as aulas tiverem realmente essa concepção de estimular e impulsionar a cultura, então não teremos muitos problemas. Mas se acontecer com as aulas de música algo semelhante com as aulas de Artes, teremos problemas.

Não sei quantos de vocês lembram como eram as aulas de artes no colégio, mas eu lembro bem que as minhas era extremamente chatas. Raramente éramos estimulados a criação, e tínhamos que decorar muitos fatos históricos. Víamos poucos quadros, não íamos a exposições e na maioria das vezes se tentássemos ser criativos e fazer algo diferente do que estava sendo pedido no exercício éramos punidos com uma nota baixa no boletim. Em vez de estimular, a aula de artes fazia o papel oposto.

Não sei se o quadro continua assim nas escolas, mas se esse engessamento da música, e da cultura, acontecer devido ao moldes da educação, teremos problemas. Mas também pode surgir daí um segundo caso, bem menos pessimista, e que talvez já tenha começado a desenrolar. Seria o caso da música, da arte e da cultura sensibilizar a educação. Algo que, esperamos, não seja muito difícil, tendo em vista que a educação lida diretamente com pessoas, mais do que matérias, regras ou contas matemáticas. E a cultura também não lida com as pessoas, e especialmente, com a sensibilidade delas? Então seria o casamento perfeito.

Esse tipo de debate já foi levantado em diversas Câmaras Temáticas do Sistema Municipal de Cultura, entre elas podemos citar Música, Produtores Culturais e Arte-Educação. Dessas, duas estão organizando-se para realizar os Fóruns Setoriais, e este já é um dos principais pontos de pauta.

A CT de Arte-Educação acaba tendo um papel fundamental nestas discussões, tendo em vista que este já é um campo que pensa na cultura como forma de educação, e vice e versa. Como fazer que a cultura seja uma forma de estimular e agregar diferentes matérias, ensinando português, matemática, biologia, sem transforma isso tudo numa aula, mas uma forma de expressão artística e estimular a criatividade? Definitivamente não é algo fácil, pois podemos cair em diversos vícios no caminho.

Mas é notório, não apenas para esse segmento, que o não-público pode começar a se formar a partir deste primeiro contato com a cultura nas escolas. Por isso, na construção do Plano Municipal de Políticas Culturais, a ida de eventos, produtores e artísticas para as escolas, principalmente do ensino público, tornou-se uma necessidade apontada por muitos grupos.

Na CT de música, por exemplo, entra em discussão exatamente a lei citada anteriormente. A proposta inicial, que está sendo elaborada pelos membros do CMPC e do Concultura é discutir com entidades que trabalham, ou devem trabalhar, com a educação música. Faculdades, escolinhas de música e outras entidades do tipo devem ser chamadas para as mesas de discussão para tentarmos entender que música é essa que iremos ensinar. Ou melhor, como não ensinar música, mas fazer dela um meio de estimular a criação de músicos ou apreciadores desta arte?

Os desafios são muitos, isso é fato. Que cultura é essa? Qual a melhor forma de ensinarmos essa cultura sem tirar a sua essência? E não apenas isso, mas como fazer esse diálogo entre as diferentes áreas, que deveriam conversar mais entre si, dentro de uma gestão pública. Educação, Meio Ambiente, Cultura, Assistência Social entre tantos outros, que influenciam diretamente a Saúde e Segurança. Nada está separado em caixinhas, e já está mais do que na hora de começarmos a vermos o todo como uma grande rede, onde todos os pontos estão interligados.

E se você tem uma opinião sobre o assunto, ou está interessado nos rumos que a educação e a cultura estão tomando, as suas idéias e propostas podem muito bem ser ouvidas em um dos vários Fóruns Setoriais, Câmaras Temáticas, Câmaras Técnicas ou nas Conferencias. O espaço está aberto. E este é o momento ideal de discutir.


*Texto publicado originalmente na coluna "Cultura RB" no jornal Página 20

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