Relatório de Gestão CMPC e Fale Conosco

domingo, 25 de janeiro de 2009

Estamos no ramal certo?*

Marília Bonfim – Pedagoga e atriz

É difícil aceitar uma arte hegemônica. Temos tendência a pensar que existe uma arte maior, que dita o que é certo, o que é lindo, o que é chick, o que é melhor, o que é moda...


No meu entendimento é arte se houver técnica, talento e provocar emoções. Mas, isso é o que eu penso conscientemente após uma reflexão sobre o assunto. Nossos comportamentos são impulsionados por nossa cultura, pelo que ouvimos e aprendemos com nosso povo.

Infelizmente, possuímos atitudes hegemônicas, visto que somos fruto do presente e de todo passado da humanidade. O mesmo preconceito também pode ser associado à visão de que existe um povo melhor que outro, um Estado melhor que outro, uma cidade melhor que a outra e assim por diante.

Há quem pense que São Paulo e Rio de Janeiro sejam melhores que o Acre, Rio Branco é melhor que Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima é melhor que a Vila São Pedro, fulano é melhor que sicrano... Está ou não está presente em nossa visão de mundo?

Atuando como artistas e/ou professores, somos obrigados a nos policiar ainda mais durante nossa prática. Precisamos romper com essa postura preconceituosa que atinge a arte e o relacionamento entre os povos. Em algum momento começou e em algum momento precisa acabar! Por que não começar agora?

Acredito que o Sistema Municipal de Cultura já está caminhando nesse ramal. Em Câmaras Temáticas, somos convidados a refletir sobre nosso fazer artístico e construímos ações capazes de fomentar a arte em nosso município. E o melhor de tudo é que podemos fazer isso coletivamente, sem discriminação, sem preconceitos e sem hierarquização. Discordamos, sim! Achamos alguns posicionamentos sem lógica, sim! Consideramos algumas posturas absurdas, sim!

Mas, dentro do Sistema Municipal de Cultura de Rio Branco, tudo o que pensamos e queremos é discutido, vira proposta, entra em votação e vence o que a maioria acredita ser o melhor. O presente está em nossas mãos e o futuro vai nos mostrar se trilhamos o ramal certo.

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Política, arte e educação! Temas diversificados que dialogam e caminham juntos na história acreana... Na história da humanidade.

Meu olhar, de imediato consegue achar afinidade entre arte e educação. Quanto à política... Acreditei que a política não tem nada haver com a arte. Mas, estou enganada! Elas são interdependentes.


Na verdade, já estou cansada da velha política partidária que envergonha o país, que desvia verbas, confabula contra a grande maioria e fortalece as desigualdades sociais. Esse tipo de política mais deveria se chamar de "polititica".

A polititica trabalha basicamente com assistencialismo e, com isso, impede todo tipo de revolução capaz de melhorar a vida dos menos favorecidos. A arte e a educação precisam ser contra esse tipo de política. A política partidária séria (e pode apostar que ela existe) precisa ser contra esse tipo de postura.

Investindo no conhecimento e proporcionando a fruição do homem, a arte e a educação são geradoras de mudanças sociais. A escola compromissada conduz nosso olhar para o coletivo, através do conhecimento. Olhamos para a história da humanidade e começamos a conhecer nosso passado, tomar consciência do presente e planejar melhor o futuro. Escola compromissada com a qualidade de vida conduz o aluno a problematizar.

A arte, através do fazer e da apreciação, consegue desconstruir conceitos que limitam a criatividade do homem. Apoderando-se novamente da capacidade de criar, o homem deixa de ser consumidor passivo e passa a ser criador.

Você deve estar pensando onde entra a política nessa história toda. Calma! Eu chego lá!

A política é a conseqüência dessa mistura entre arte e educação. Lembre-se, não estou falando da polititica. Estou falando de ações políticas. Conscientes de seus papéis, a arte e a educação provocam no homem uma imensa vontade de possuir ações políticas voltadas para a coletividade.

Quer um exemplo? Os empates! Quem não se lembra dessa página da história do Acre? Homens, crianças e mulheres de mãos dadas na frente das motosserras, dos tratores que colocavam a floresta no chão. Os empates foram ações políticas que salvaram o que ainda resta da Amazônia. Alguns morreram como Chico Mendes e Wilson Pinheiro, mas suas ações políticas ainda vivem e ecoam pelo mundo.

Mas você deve estar pensando: que contradição! Ela fala dos empates para exemplificar o poder da arte e da educação nas ações políticas de homens e mulheres que nunca visitaram museus, e nem sabiam ler e escrever em sua maioria.

Caros amigos, isso só nos demonstra que o conceito de educação extrapola os limites da escola. A educação informal pode mover o mundo! A arte extrapola as galerias. Ela pode vir pelas ondas do rádio, nas páginas do cordel ou rodopiar nos forrós da casa do cumpade.

Portanto, reafirmo que arte, educação e política dialogam e caminham juntas.

*Texto publicado na revista Outros Mozaicos da Cidade Nascente, lançada pela FGB em dezembro de 2008.

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